Há certas coisas que o nosso mundo já não compreende, não por serem complexas, mas talvez por serem simples demais para nossa sofisticação. Falamos de rainhas e coroas, e logo nos vêm à mente tronos dourados e cortes pomposas , nada de errado nisso, exceto quando nos faz esquecer que a verdadeira coroação de Maria acontece num registro muito mais delicado, muito mais íntimo, muito mais maternal. Muito mais cristão.

Que espécie de rainha é esta que surge não em palácios, mas numa manjedoura? Que não exige homenagens, mas as recebe com a quietude de quem aceita flores das mãos de uma criança? Que não governa por éditos, mas por um singelo "fazei tudo o que Ele vos disser"?


Na antiga ordem das coisas, a mãe do rei ocupava um lugar singular, era a Gebirah, a Senhora, conselheira e intercessora. Quando Salomão assumiu o trono, sua mãe Betsabé não foi posta à margem como objeto decorativa; antes, compartilhou de seu reinado. Se isto era verdade no reino terreno, que não passava de sombra do celestial, quanto mais não o será no Reino que não conhecerá fim?

Cristo, o Rei eterno, não revogou esta ordenança: consumou-a. No Calvário, quando tudo parecia perdido e as trevas julgavam ter triunfado, o Rei agonizante realizou um ato próprio de sua realeza: confiou sua Mãe ao discípulo amado e, nele, a todos nós. "Eis aí tua mãe." Não foi gesto fortuito, mas ato de governo. Se o primeiro Adão nos deixara órfãos por sua falha, o novo Adão, no clímax de seu combate, deu-nos uma mãe.

Maria não recebeu a coroa por ambição de glória, mas por ter abraçado a Cruz de seu Filho. Não subiu aos céus por conquista, mas por ter dito "sim" a Deus na simplicidade de Nazaré. Sua realeza não se funda em pompas, mas em humildade e serviço. Pois esta é a verdadeira obra da realeza: servir os pequenos por amor.

Em suas aparições em Fátima, em Lourdes, em Guadalupe, ela nunca se apresenta como soberana distante, mas sempre como mãe: às vezes sorridente, outras vezes com o coração apertado, mas invariavelmente próxima. Não vem para dominar, mas para aconselhar; não para impor, mas para guiar com doçura. Celebrar sua coroação é, assim, participar de uma festa de família. É reconhecer que temos a quem recorrer, certos de ser acolhidos. É recordar que no Reino de Deus os últimos são primeiros, os humildes são exaltados, e uma jovem que mal compreendia o mistério que nela se operava tornou-se Mãe do Rei e, por dom imerecido, Mãe de todos nós.

Se isto não é motivo de alegria, de transbordar a alma de contentamento, então o céu deve ser lugar muito mais simples, e muito mais feliz, do que ousamos imaginar. Pois assim ele é, aos olhos da Mãe, do Pai e do Filho.

Texto: PASCOM / Fotos: PASCOM

















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